Faleceu no último sábado (16/09/2017) o Sociólogo José Arthur Rios (1921-2017), cursou Ciências Sociais na antiga Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi) da Universidade do Brasil (hoje UFRJ), ’Master of Arts’ em Sociologia na Universidade de Louisiania, e foi membro do Centro Dom Vital, sendo aluno de Gustavo Corção. Profissionalmente exerceu atividades em instituições internacionais e nacionais, como consultor da ONU, professor na Universidade Estadual da Flórida e da Califórnia, e no Brasil da PUC-Rio, Santa Úrsula e UFRJ, assim como membro do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (IHGB), cuja presença era marcante até pouco tempo (logo abaixo postagem do professor Christian Lynch sobre evento em 2016, no IHGB, em que José Arthur Rios, sempre muito bem humorado, presidia a mesa).
Todo Cientista Social tem um “quê” de mago, de visionário, com o desejo intenso de prever e alertar sobre passado, presente e futuro. A batalha pode ser perdida, como Alberto Torres que perdeu o debate com Olavo Bilac sobre o lugar do Exército na sociedade brasileira – enquanto o primeiro queria evitar o militarismo na sociedade civil, Bilac achava que a caserna era “escola de civismo”; e também foi vencido sobre o modo do desenvolvimento brasileiro, para Alberto Torres o Brasil não deveria dar as costas ao rural, como acabou fazendo, apostando quase que exclusivamente na tônica do industrialismo e urbanismo. José Arthur Rios também fez seus alertas, inclusive sobre a catástrofe da urbanização carioca. Rios foi proeminente no estudo sobre favelas, sua pesquisa de maior impacto foi publicada em 1960 – em dois encartes no jornal O Estado de São Paulo. O estudo, encomendado pelo jornal à extinta Sagmacs (Sociedade de Análises Gráficas e Mecanográficas Aplicadas aos Complexos Sociais), era orientado pelo padre Louis Joseph Lebret, fundador do movimento “Economia e Humanismo”, e conduzido por José Arthur Rios em conjunto com o também sociólogo Carlos Alberto de Medina e o arquiteto Helio Modesto.
Já nessa época Rios condenava a substituição das favelas por conjuntos habitacionais gigantescos, como ao comentar sobre a construção dos prédios populares da Cruzada São Sebastião, no Leblon, explicando o porquê da oposição:
“(…) aquilo não passa de uma favela vertical, e eu sempre combati esse tipo de favela; chamava de gueto. Nos subúrbios, os antigos institutos de aposentadoria plantaram várias favelas verticais, que são focos de crime, de droga, de prostituição (…). A favela é outra coisa, tem outra possibilidade de realização, de participação, que o conjunto não tem. O conjunto sufoca.” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2207200213.htm).
Em 2010 o laboratório LeMetro (IFCS/UFRJ) organizou um grande evento sobre os 50 anos da pesquisa de Rios, “Aspectos Humanos da Favela Carioca: ontem e hoje” (http://nucleodememoria.vrac.puc-rio.br/…/2010aspectoshumano…). Na ocasião, Rios deu entrevista ao Estadão reiterando o que já havia colocado há 50 anos atrás, e que permanecia como verdadeiro:
“A urbanização de favelas deve vir de dentro para fora”.
“Não é uma panaceia, mas uma combinação de políticas. De habitação, de terras, de migração, de emprego, de transportes. Não estou dizendo que o problema seja simples. É extremamente complexo. Exige visão de estadista. A urbanização deve vir de dentro para fora, não por meio de maquiagem. Não se pode impedir que o homem deseje melhorar, ter acesso a serviços fundamentais. Quer ter escola para os filhos, postos de saúde, trabalho. A falta de transporte barato e adequado é uma das razões da criação de favelas.”
No auge das UPPs foi certeiro no diagnóstico, se o ideal desse projeto era a polícia comunitária, não faria sentido sem integrar a própria comunidade no processo:
“[A UPP] É uma tentativa necessariamente transitória. Não se pode ocupar indefinidamente. Continuo insistindo na necessidade de participação efetiva do favelado”, disse em entrevista (Estadão, 19 de maio de 2010).
José Arthur Rios sempre se mostrou um entusiasta do Beemote – da proposta do grupo em se debruçar sobre o Pensamento Político Brasileiro. Luiz Carlos Ramiro Jr. e Flávio Alencar estiveram em algumas ocasiões o entrevistando, e a última visita foi quando esteve internado no Hospital São Francisco de Assis, na Tijuca. A propósito, Flávio Alencar publicou uma entrevista com Rios em 2015: “Quando o realismo filosófico vai às favelas. Entrevista com José Arthur Rios” (Nabuco: Revista Brasileira de Humanidades, nº 4, ISBN: 978-85-68289-03-7,Edições Nabuco, 2015.).